Uma questão de educação

        

        Ela sempre foi uma boa moça. Admirada por todos pela sua boa educação e pelo seu bom humor. E a boa-praça dava bons motivos para tanta admiração...

        “Bom dia!” - costumava cumprimentar a todos; “Boa sorte!” - desejava de coração; “Bom apetite!” - nunca se esquecia de dizer; “Tudo bom?” - perguntava cordialmente; “Boa tarde!” - tinha o hábito de falar; “Que bom vê-lo novamente!” - repetia na primeira oportunidade; “Bom fim de tarde!” - adorava tal expressão; “Bom começo de noite!” - exagerava, muitas vezes; “Boa noite!” - nunca deixava de pronunciar; “Boas festas!” - felicitava os amigos no final do ano...

        Infinitos “bons” e “boas” - suas especialidades – a faziam uma pessoa especial, de muito boa reputação.

        Mas um dia aconteceu-lhe algo nada bom. Infelizmente, a vida aplicou-lhe uma boa peça. Como sempre fazia, ela chegou de bom astral ao escritório e procurou manter o bom ambiente de trabalho:

        - Bom dia, chefe! - falou com boa intenção.

        Mas o fato é que ela não havia chegado em boa hora.  Seu chefe, que era um boa-pinta, acabara de dar um bom chute no pé da escrivaninha e, mesmo sendo tão boa pessoa, deu-lhe um bom “fora” no ato.

        - O que é que ele tem de bom? - respondeu-lhe em alto e bom som.

        Ela, por sua vez, apesar de sua boa índole, resolveu dar-lhe uma boa lição, dizendo-lhe umas boas verdades:

        - Só desejei “bom dia” por uma questão de educação!

        O chefe não achou muito bom aquilo que acabara de ouvir e tratou de aprontar-lhe uma boa.

        - Bom, neste caso, a senhora está no “olho da rua”! - deu um bom grito.

        Que bomba! Que susto ela levou! E até concordou que aquele realmente não era um dia tão bom assim, afinal, tudo parecia dar errado naquela manhã em que o tempo também não estava muito bom, ao contrário do que informara a previsão do tempo. Além dela não ter tido um bom sono na noite anterior, o seu despertador não tocara, atrasando-a por uma boa meia hora e o seu bom marido acordara com uma boa de uma gripe, o que já não era um bom sinal.

        Mesmo com toda sua boa educação, ela não tinha um gênio muito bom. Ficou muito irritada por seu chefe não ter agido de boa-fé. Ela tentou, mas não conseguiu manter o bom-senso e acabou quebrando um vaso na boa careca do seu chefe. Foi uma boa bordoada! E ela, é claro, mais uma vez, não deixou de lado sua boa educação...

        - Tenha bons sonhos! - recomendou-lhe com umas boas risadas.

        E toda aquela cena parecera pertencer a um bom filme de guerra. E que bombardeio! E mais uma vez, ela teve a certeza que, de bom, aquele dia não tinha nada mesmo.

        Como o seu chefe permanecia desacordado por um bom tempo, ela teve a boa ideia de chamar um bom médico, ou até mesmo, os bombeiros para socorrê-lo e levá-lo a um bom hospital, já que ela não gostaria de terminar seus dias numa boa de uma prisão.

        Ninguém pode imaginar como foi bom para ela ouvir o médico dizer que logo seu chefe ficaria bom.

        Sendo assim, sua boa educação novamente falou mais alto e ela achou que seria de bom-tom fazer uma visita ao seu antigo chefe no hospital. Para tanto, comprou-lhe uma boa caixa de bombons e alguns bombocados também. O chefe que nunca escondera ser um bom-garfo, certamente a receberia com um sonoro “O que é que você trouxe de bom para eu comer aí, hem?”.

        Desta vez, ela chegou num bom momento e encontrou-o na boa-vida...

        - O senhor está bem? - perguntou-lhe bem sem jeito ao ver-lhe bem machucado.

        - Bem... Antes de mais nada, seja bem-vinda! - respondeu-lhe bem-humorado, o que a deixou bem mais aliviada.

        - O senhor bem que poderia me desculpar, afinal, eu sempre me comportei tão bem... - falou bem humilde.

        Ele estava bem constrangido com toda aquela situação e achou por bem perdoá-la e acabar bem depressa com as desavenças:

        - Por mim, tudo bem!

        - Puxa! Sinto-me bem melhor... - falou sorridente mostrando todos os seus dentes bem brancos.

        E já que ele estava no bem-bom, longe dos problemas do escritório, ele até que fez um comentário bem engraçado:

        - Até que a senhora bate bem, hem!? Quase quebrou minha cabeça bem no meio...

        - Pois é... O senhor bem que mereceu...

        - Tem razão! E foi bem-feito pra mim, rá, rá...

        - Bem que o senhor podia mudar aquela escrivaninha de lugar, hem!? Rá, rá...

        - Bem que eu tentei com aquele chute, rá, rá...

        Ah, estavam bem à vontade! E tiveram uma conversa bem amigável. E, é claro, ele não se esqueceu de cobrar-lhe as guloseimas que ela lhe trouxera, justificando que precisava estar bem-alimentado para sua recuperação ser bem-sucedida. E ela ficou bem feliz ao conseguir seu bem-amado emprego de volta.

        E tudo que começou bom, acabou muito bem... Bom, ainda bem!